terça-feira, 16 de março de 2010

Escola Livre de Mortágua














Transcrevemos a informação  sobre a escola Livre de Mortágua, contida no livro Contributos para a Monografia do Concelho de Mortágua:

"A Escola Livre de Mortágua foi fundada no dia 9 de Abril de 1919. Segundo uma carta de Albano Morais Lobo (filho) dirigida ao diretor do jornal "Sul da Beira", a Escola Livre não tinha objecivos políticos, mas tão-só, com a sua biblioteca, actividades desportivas, etc, libertar a população da perdição da taberna, "pelo desejo de ilumina-la daquela luz divina que nos vem da arte e das ânsias do saber".
Cinco meses após a sua inauguração, proferiu na sua sede, uma conferência sobre História de Portugal, o Dr. Lopes de Oliveira. Nela começou por abordar o aparecimento do primeiro homem sobre a Terra, a deslocação dos Povos, a fundação do Condado Portucalense e o reinado de D. Afonso Henriques. Concluiu com a afirmação de que Napoleão Bonaparte decretara em França o Estudo da história do seu país e de Portugal.
Para sedimentar as conferências, a direcção da Escola Livre de Mortágua acabou por instituir um horário para a secção de Estudos Gerais, com lições de Geografia e de História portuguesa, ás terças-feiras e sábados, e lições de Elementos de Literatura Portuguesa e de Astronomia, ás quartas-feiras. A responsabilidade delas cabia ao Dr. José de Oliveira e Tomás da Fonseca.
Aquando da visita, em finais de 1919, a Mortágua, do Ministro do Trabalho, Dr. José Domingos Santos, este aproveitou a ocasião para visitar as serrações de madeira de António Francisco Cró e António Lourenço e Ammeida, Lda.; a antiga residência paroquial onde ia ser instalado o hospital, a quem concedeu, aliás, o subsídio de 6.000$00, e a Escola Livre, inscrevendo-se com a comitiva no livro dos visitantes.
Corria o ano de 1920 quando a Escola Livre, pela Páscoa (11 de Abril de 1920), comemorou o seu 1.º aniversário. As festas começaram com a alvorada pela tuna da Escola Livre e uma salva de morteiros. Apesar da chuva que caía abundantemente, a sessão solene foi presenciada por numerosa assistência e abriu com a entoação do hino nacional pelas crianças de ambos os sexos, das escolas das freguesias de Mortágua e Sobral. Falaram depois vários oradores (Basílio Lopes Pereira, Tomás da Fonseca, Abel Batista e César Anjo). Presidiu às cerimónia o Dr. Aureliano Maia, secretariado pelo Dr. Cândido Ferreira e José Henriques Nunes. Recitaram poemas, Tomás da Fonseca, Augusto Lobo, o menino Alberto Lobo e Maria Sacuar Bandeira.
Finda a sessão solene, no testro-Club, procedeu-se a uma visita à sede da Escola Livre, onde seria destríbuida uma esmola de 1$00 a cada um dos 20 pobres mais necessitados da freguesia de Mortágua. De tarde realizou-se um desafio de futebol pelos alunos da Escola Livre e provas de atletismo.
À noite no Teatro-Club, decorreu um espectáculo com a manifesta intenção de angariar fundos para as obras do hospital. Do seu vasto programa constavam a actuação do grupo musical da Escola Livre sob direcção de António Ferreira Afonso; uma récita por Gezida Gouveia vestida com o hábito da Cruz Vermelha, e a apresentação das peças de teatro "O Comissário de Polícia", comédia em 4 actos, de Gervásio Lobato, e a comédia em 1 acto, "um Noivo de Encomenda", por parte da Secção da "Arte de Representar".
Destacaram-se como actores, Gezida Gouveia, Maria Batista d`Almeida, Maria Isaura, Maria N. Matos, Julieta Gouveia, Maria P. Matos, Abel Batista, António Cró, José do Porto, João Afonso, Manuel de Oliveira, J. Henriques de Almeida, António José Gonçalves, Augusto Lobo, J. A. d`Oliveira, Álvaro Lopes e M. Cró."
(...) Ainda em 1920, a Escola de Mortágua abriu cursos do 1.º, 2.º e 3.ºanos dos Liceus e práticas de Francês, Contabilidade e Escrituração Comercial. As aulas eram dadas pelo chefe da secretaria da Câmara Municipal de Mortágua, Mário Gomes da Silva, estudante de Direito em Coimbra e ex-professor de vários colégios na cidade do Porto e Matosinhos.
No domingo de Páscoa de 1921 a Escola organizou uma festa da árvore com a participação das crianças das escolas primárias de Mortágua e Vale de Açores. Para a sessão foi convidado o escritor, poeta e militar, Capitão Augusto Casimiro.
As árvores foram plantadas no antigo cemitério de Mortágua, agora adaptado como jardim e sujeito à direcção e administração da Escola Livre.
A cerimónia da plantação das árvores foi presidida pelo Dr. Basílio Lopes Pereira, que chamou a atenção para um antigo campo santo se tornar numa agradável plantação de oliveiras e tílias.
Os meninos das escolas plantaram à direita, e as meninas à esquerda, uma oliveira, o mesmo tendo sucedido com os alunos do curso nocturno da Escola Livre. Por outro lado plantaram-se 14 tílias em nome das secções dos “Estados Gerais”, “Música”, “Teatro”, “Artes Aplicadas”, “Filantropia”, “Biblioteca Popular Albano Lobo”, senhoras da Escola Livre, e uma outra pelo delegado da sua congénere da Irmânia.
(...) A Escola Livre de Mortágua, nos inícios de 1927, reorganizou-se de modo a enfrentar as novas aspirações através da criação de outras secções (escutismo, filantropia, etc.) e fazer face à crescente desorganização. (...)
Esta nova direcção manifestou todo o interesse na realização de conferências de indiscutível valor científico. Para a primeira, a realizar no dia 15 de Maio, foi convidado um professor de Geologia da Universidade de Coimbra, Dr. Raul de Miranda.
Concretizou-se a conferência no Teatro-Club. (...) O conferente dissertou sobre a origem do Universo, as plantas e animais pré-históricos, o gradual arrefecimento da terra e o desaparecimento da vida humana do planeta.
No dia 31 de Maio de 1927 o Dr. João C. Mamede, viu-se na necessidade de publicar um comunicado no Jornal “ Sul da Beira”, reafirmando a independência da Escola Livre, de todas as convicções religiosas e políticas, esperando, em contrapartida, que ela sirva para formar homens livres e conscientes, isto quando se sabia que a Escola Livre de Mortágua desempenhava um primordial papel, graças à sua secção de filantropia, no combate à tuberculose. (...)
Para o biénio de 1928-1929 reuniram-se, em Novembro, em Assembleia Geral, os sócios da colectividade. Antes do Acto eleitoral foi apresentado o relatório de actividades, na qual se cita todo o movimento desportivo desenvolvido no concelho, justificativo do título dado a Mortágua, de “ Capital do Desporto da Beira Alta”.
(...) Coube a Mortágua a honra de ter sido o primeiro concelho a fundar uma Escola livre. Em 1932 apelava-se para o ressurgimento (mantinha-se a secção de Educação Física), mas a dispersão dos seus membros e a falta de recursos provocou a sua morte lenta, faltando uma sede, um centro, uma biblioteca, onde a mocidade se possa instruir fugindo aos vícios e possível degradação da saúde.
Uma das provas da sua contínua degradação estava patente na biblioteca que tinha o nome de Albano Morais Lobo. Os livros desapareciam ou rareavam por falta de ofertas.
Já no final do ano, Duarte Portugal, a residir agora em Lourenço Marques, abriu uma subscrição com o fim de angariar donativos a favor da Filarmónica, Sociedade de Tiro, Bombeiros Voluntários e Escola Livre. (...)
A lista de subscritores incluía portugueses e estrangeiros, avultando entre eles um antigo dirigente da Escola Livre, a exercer clínica nessa antiga colónia portuguesa, o Dr. Manuel Rodrigues, de Monte-de-Lobos.
No início de 1933 prosseguiram os trabalhos de reorganização da escola. Constava essa reorganização no desejo de uma nova sede, com biblioteca, sala de leitura, salão de jogos, e o desconto de 50% nos bilhetes de ingresso nos desafios de futebol disputados pela Escola Livre no Campo da Gandarada.

Como a biblioteca ficou reduzida a poucos volumes, apelava-se a novas ofertas e à entrega daquelas obras que haviam ficado com os seus requisitantes.
A sua (re)inauguração estava prevista para dia 9 de Abril de 1933, data do 14.º aniversário da sua fundação, embora a sede já fosse frequentada, entre as 20h-24h, desde há dias e com animada frequência. Para cativar sócios e assistência, a Escola Livre possuía um aparelho de radiofonia onde, por exemplo, foi dado ouvir no início desse mês o relato do jogo de futebol disputado entre Espanha e Portugal na cidade de Vigo.

In Contributos para a Monografia do Concelho de Mortágua, pp. 101-109.

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