terça-feira, 23 de março de 2010

Correspondência de Lopes de Oliveira

UMA MANCHEIA DE CARTAS
De Manuel de Arriaga (1840-1917)

  Lisboa, 3 de Maio de 1905
Presado Senhor Lopes D’ Oliveira
Venho agradecer-lhe a oferta do seu belo livro A justiça e o Homem e felicita-lo pela excelente orientação scientifica do seu lucente espírito, cuja completa emancipação dos restos de civilização católico-feudal, que ainda hoje nos deprime e afronta, é manifesta.Há neste seu simpático trabalho intenções sugestionadoras dum melhor futuro da Humanidade e lampejos de talento, que o devem confortar e fortalecer nas agruras da sua vida. Bemvindo seja!O problema abordado neste seu primeiro livro é extremamente complexo e complicado, pois pode dizer-se com verdade que a sua solução será a última palavra do progresso humano.Como observar todos os movimentos humanos que vão contribuindo para uma emancipação que tende a encontrar o equilíbrio social estável na egualdade de direitos e deveres entre todos os homens? Como todos sabemos, por amarga experiência quotidiana, estamos infinitamente afastados desse Ideal. E MESMO CONTRA A MARÉ!Em quanto não se conseguir uma verdadeira organização social, cuja lei suprema seja a indissolúvel e imprescindível solidariedade dos mundos e das consciências em todos os fenómenos da nossa vida e em todas as relações com o nosso semelhante, quer este seja branco, preto, amarelo ou vermelho, qualquer que seja o agregado social de que faça parte, o problema humano estará sempre longe duma solução definitiva.Até lá serão sempre justificadas as queixas de Job e os protestos de Prometheu e serão sempre bem vindos os espíritos ardentes, luminosos e cultos como o seu, dando o que pensam, o que sentem e o que valem em prol da Verdade.Renovando os meus agradecimentos, subscrevo-me, com toda a simpatia e consideração, seu admirador sincero.
MANOEL D’ARRIAGA
P.S. É provável ir aí fazer uma conferência no domingo, e desejaria vê-lo e abraça-lo.

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