terça-feira, 16 de março de 2010

Escola Livre da Irmânia - Marmeleira (Mortágua)

Transcrevemos a informação sobre a escola Livre da Irmânia, contida no livro  Contributos para a Monografia do Concelho de Mortágua:
 
"As escolas livres são um tipo de escola e de ensino que se procurou estabelecer em Portugal a partir de 1907 com base na Escola Moderna que Francisco Ferrer criara em Barcelona (Espanha). As várias escolas livres que apareceram nas Beiras (Irmânia, Mortágua, Pampilhosa do Botão, Mealhada e Oliveira de Azeméis) justificaram o aparecimento da Confederação das Escolas Livres da Província da Beira, sediada em Oliveira de Azeméis.
A Escola Livre da Irmânia (Marmeleira) terá sido fundada em 1908. Todavia, dois anos depois da implantação da República os estudantes Basílio Lopes Pereira e Alfredo Fernandes Martins fundam na localidade um pequeno jornal, o "Sol Nascente". O produto líquido da venda reverte a favor da Biblioteca Popular instituída na terra de onde eram naturais. Para além desses irmânicos, entre aqueles que estão na génese da Biblioteca, a que deram o nome do Centro Democrático de Educação Popular, convém destacar António Pereira de Sousa, João Pereira de Sousa, Júlio Baptista dos Reis, José de Matos e David Araújo.
Entre as motivações  subjacentes ao aparecimento deste centro, estava o desejo de fomentar o progresso material e moral das populações.
Daí que não seja de estranhar um conjunto de conferências. A primeira das quais efectuou-se no dia 9 de Fevereiro de 1913. 
A mesa da conferência era presidida por Martins e Abreu, secretariado por David Duarte Araújo e Germano Simões de Jesus e Cunha. Foi conferente o estudante da Universidade de Coimbra, António Campos de Carvalho, cuja conferência versou o tema "Educação". O edifício onde ela se realizou encontrava-se repleto de populares e representantes da Câmara Municipal, Vereador Joaquim Lopes Pereira; Juntas das Paróquias da Marmeleira, Cercosa, e Cortegaça, bem como professores ou representantes das escolas primárias da Marmeleira, Cercosa, Trezói, Mortágua, Sobral, Vale de Remígio e Carvalho (Penacova). 
Contudo, a festa da inauguração do centro teve lugar no mês de Setembro de 1913. A sessão inaugural foi presidida pelo Visconde do Alto Dande, e secretariada pela professora primária de Cercosa, F. Eliza de Souza Narciso. Falaram o deputado da Nação, Tomás da Fonseca, o administrador do concelho, Eduardo de Magalhães e Martins Abreu. Aproveitaram a ocasião para abordar as leis que a República tomava com o intuito de desenvolver o país e separar o Estado da Igreja.
No dia 11 de Outubro de 1914, o Centro Democrático de Educação Popular dedica uma festa à instrução, cabendo papel preponderante na sua organização, a Simões Nunes Coelho, sua filha, Joaquina N. Martins, professora primária na povoação, e à sua colega de Cercosa, Ana dos Santos Silva. Durante a festa falaram o professor do liceu Passos Manuel, em Lisboa, Dr. Lopes de Oliveira,e Martins Abreu, e deram-se calorosas vivas à Educação, à Pátria e à República.
Em 1931 a biblioteca da escola era bastante frequentada e a direcção procurava angariar mais sócios e donativos para a manutenção das actividades relacionadas com a cultura física e intelectual, recebendo,por seu lado, uma carta de uma nova escola livre, fundada em Setúbal.
Sabemos que no início de 1932 o apelo da escola é atendido por Adelino Rodrigues Maças, de Vale de Remígio, que oferece trinta livros de autores diferentes. Nesse mesmo ano, o jornal "Sul da Beira" questionava da possibilidade de ainda se encontrar filiado na Escola Livre da Marmeleira um indivíduo que havia confessado ter roubado um ourives, quando cabia à escola a elevação do nível moral da população da região da Irmânia e não "albergar criaturas com hábitos que envergonhavam a mocidade e a sociedade"
Com o propósito de beneficiar os sócios que viviam afastados da região da Irmânia, a direcção da escola publicitou o nome de alguns livros cuja leitura recomendava. Na vasta biblioteca encontramos obras de Eça de Queiróz, Camilo Castelo Branco, Tomás da Fonseca, Alexandre Herculano, Lewis Wallace, J. Augusto de Castro, Faria de Vasconcelos, José Estevão, Almeida Garrett, Júlio Dantas, Alexandre Dumas, Guerra Junqueiro, Kropotkine, Bernardino Machado, e entre outras, a obra completa do imaginativo escritor francês, Júlio Verne. 
Os sócios residentes fora do concelho tinham o direito de requesitar uma ou mais obras mediante o pagamento do respectivo porte do correio podendo lê-las durante um prazo de 30 dias.
A bilbioteca foi enriquecida em 1933 com livros oferecidos pela Livraria Atlântida, de Coimbra, e nos meses de Março e Abril realizaram-se conferências subordinadas aos temas "Higiene e Doenças Nervosas" e "Cultura Geral nas Profissões", proferidas respectivamento pelo Drº Manuel Afonso e o industrial António Lourenço Afonso.
No dia 13 de Abril de 1933 a Escola Livre da Irmânia procedeu a uma reorganização, ficando como responsáveis da direcção e suas diversas secções, as seguintes pessoas: Secretário Geral da escola - Francisco César Cordeiro; Secretário das actas e arquivos - Leonel Soares de Oliveira; Secretário da Contabilidade - José Francisco Duarte; Tesoureiro da escola - António Correia Ferreira; Biblioteca popular - secretário, Aires Gomes de Carvalho; Secção de estudos gerais - Francisco César Cordeiro; Secção de agricultura e esperanto - Cincinato Martins e Abreu; Secção de educação física - Leonel Soares de Oliveira; Secção de música e canto - Silvino Simões; Secção de arte de representar - José Francisco Duarte; Secção de filantropia - Silvino Marques de Matos; Secção de melhoramentos e propaganda - António Correia Ferreira; Secção de escutismo - Aires Gomes de Carvalho e Arrecadação geral da escola - António Francisco Ministro.
O conselho directivo deliberou na sua sessão do dia 14 do mesmo mês, tratar de adquirir um terreno para a construção de um polidesportivo capaz de permitir a prática de basquetebol e outras modalidades."  
    
In AA. VV. Contributos para a Monografia do Concelho de Mortágua (2001). Mortágua: CMM, pp. 98-101.

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