terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"A Actual Situação Política", por José Lopes de Oliveira

A directora da Biblioteca Municipal Dr. Branquinho da Fonseca muito amavelmente nos disponibilizou um texto do Dr. José Lopes de Oliveira, intitulado "A Actual Situação Política", escrito em 1907, na época do governo de João Franco, três anos antes da queda da Monarquia...
Os ideais republicanos e anti-monárquicos do Dr. José Lopes de Oliveira são abertamente explicitados neste artigo "A Actual Situação Política - Conferência realisada no Centro Republicano de Vizeu em 9-6-1907", Separata do n.º 458 d' A VOZ DA OFFICINA, como se depreende através da leitura do texto...


"Da história politica dos últimos annos claramente resalta que o monarchia está já, de facto, prisioneira da republica. O conferente dá d’isso a prova mais flagrante, dizendo que, se a monarchia reconhece ao povo as liberdades, este logo as exerce contra ella, votando, reunindo, associando-se, escrevendo e fallando contra o regimen, pois que este levou tão longe a sua obra liberticida, que não se acredita jamais na sua boa fé quando faz o resto do liberalismo, nas occasiões de perigo, recuando no caminho da desvairada e reaccionária oppressão. Perante esta atitude, a monarchia, entre a espada e a parede, então não tem a hesitar, e não querendo abdicar a soberania do poder divino perante a soberania nacional, volta a atacar de novo, furiosamente, as liberdades, preparando-nos o mais pérfido absolutismo, pois tem todas as suas infâmias, sem ousar no entanto ter coragem de declarar-se como tal. Mas então é certo que o paiz logo se agita, e de norte a sul, vibra a palavra Revolução como um clarim de guerra. De novo a monarchia medrosamente se agacha, e finge hypocritamente ir combater, ella propria, em si, «os crimes e erros de longe vem». E assim continua dominando o paiz este moribundo regímen, aprisionado, escabujante, mas ainda feroz e damnoso. Quem dirige estas manobras? Na sua carta de alforria dizia o sr. D. Carlos, que todos lançam a responsabilidade d’ellas sobre o Rei. E’ pois o rei, por sua própria confissão, o seu responsável. E no reinado produziu já Sua Magestade três documentos que lhe conferem a legitima paternidade d’esta táctica. São elles a resposta á câmara do Porto em 1891, a declaração a propósito da quetão religiosa em 1901 e a recente carta de alforia. Nos momentos graves o rei de Portugal é sempre, como se sabe, - «rei liberal por tradição, educação e convicção…»A entrada de João Franco nos conselhos de côroa foi um acto de desespero do regimen e do reinante. A monarchia, apavorada perante os sucessos de Lisboa, temendo a nação e sem cofiança no exercito, recorreu á ultima arma, e essa era evidentemente o dictador do Alcaide.(...) O governo não usará nunca a dictadura que ahi se apregoa, a dictadura militar. Essa forma de tyrania seria a ultima do regimen; - com a dictadura militar elle se teria suicidado. A dictadura só terminaria, quando o exercito houvesse abandonado as instituições. (...) Não, - a monarchia não tem coroagem para o suicidio. A monarchia será morta, mas não emborcará ella mesma a taça do lethal veneno. A dictadura militar não é mais que um gesto vão entre a obra do terror que o ministerio veiu juntar, hedionda e burlescamente, á antiga obra de corrupção que elle tambem tão animosamente continua. Não passará d`isso.(...)
  

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