terça-feira, 9 de novembro de 2010

Colóquio "República em Mortágua", com o Prof. Dr. Romero de Magalhães


Dando cumprimento a mais uma iniciativa integrada no Programa de Comemorações do Centenário da República, levado a cabo pelas professoras de História do Agrupamento de Escolas de Mortágua, teve lugar no passado dia 3 de Novembro, no Auditório da Escola Básica 2/3 Dr. José Lopes de Oliveira, um Colóquio subordinado ao tema "República em Mortágua", com a presença do Professor Doutor Joaquim Romero de Magalhães, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Esta acção foi destinada às três turmas do 9.º ano de escolaridade e ainda aos alunos das turmas do 10.º, 11.º e 12.º anos, do Curso Científico-Humanístico de Línguas e Humanidades.
Os principais objectivos deste colóquio foram: comemorar o Centenário da República no Agrupamento de Escolas de Mortágua através de diferentes iniciativas, envolvendo toda a comunidade educativa; aprofundar o conhecimento dos factos mais relevantes que conduziram à implantação da Primeira República; realçar a acção dos governos republicanos na laicização do Estado e nas áreas do Ensino e da Cultura, entre outras; reconhecer o papel determinante das figuras históricas da Primeira República; conhecer personalidades republicanas do concelho de Mortágua, sublinhando o seu contributo para o desenvolvimento político e cultural do Município; promover atitudes de cidadania activa, reflectindo sobre a identidade nacional, os valores da República, o desenvolvimento e o futuro das instituições políticas.
Com a sala cheia, que ultrapassou a centena de pessoas, entre alunos, professores e outros participantes, a sessão iniciou-se com a visualização de um vídeo e a audição da "A Portuguesa", um momento solene a que todos os presentes responderam com dignidade.

A abertura do Colóquio foi feita pelo Presidente da Comissão Administrativa Provisória, Dr. Rui Parada da Costa, que agradeceu ao conferencista a disponibilidade para partilhar com os alunos de Mortágua os seus conhecimentos e pontos de vista acerca da Primeira República Portuguesa, saudou os alunos, e realçou o empenho e dinamismo do grupo de História na implementação do leque de iniciativas relacionadas com a comemoração do Centenário da República no Agrupamento.
De seguida, a Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Humanas, professora Elisabete Oliveira, apresentou uma breve biografia do Prof. Dr. Joaquim Romero de Magalhães, dando a conhecer a sua carreira académica e de investigador:
O Prof. Dr. Joaquim Romero Magalhães é Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1967), Doutor em História Económica e Social (1984) e Agregado em História Económica e Social pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1993). É Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra desde 1994. Possui diversos trabalhos publicados sobre o Algarve e a História de Portugal. É Professor convidado em várias Universidades estrangeiras. Foi condecorado em diversas ocasiões por entidades brasileiras e por municípios portugueses e, em 2002, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Desempenhou o cargo de Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos. Actualmente, é membro da Comissão de Projectos para as Comemorações do Centenário da República. Em 2009, publicou, pela Almedina, Vem aí a República! 1906-1910, uma história dos últimos anos da Monarquia em Portugal. Em 2010 publicou, com o patrocínio da Câmara Municipal de Mortágua, Os Combates do Cidadão Manuel Ferreira Martins e Abreu, um republicano de Mortágua.
Tendo tomado a palavra, o Dr. Romero de Magalhães fez a contextualização histórica das razões que conduziram à queda da Monarquia e à implantação da República, referiu os aspectos mais relevantes da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, destacando o papel do Partido Republicano Português, e em particular dos seus dirigentes – Afonso Costa, António José de Almeida, Brito Camacho, entre outros. De seguida, mencionou o conjunto de medidas, tomadas pelos primeiros governos republicanos, a nível da laicização do Estado (registo civil obrigatório, lei do divórcio, nacionalização dos bens da Igreja, expulsão das ordens religiosas, proibição do ensino religioso nas escolas), do trabalho (semana de seis dias e 48 horas de trabalho, descanso semanal obrigatório ao domingo, direito à greve), na acção social (criação da Previdência Social, fundação de maternidades, abertura de cozinhas económicas para os pobres) e no ensino (escolaridade obrigatória gratuita dos 7 aos 12 anos, criação de escolas primárias, escolas livres e móveis, assim como de escolas normais para professores primários, e a fundação das universidades de Lisboa e Porto).
Enunciou as dificuldades da acção governativa dos governos republicanos, durante os 26 anos da Primeira República, ressaltando, por exemplo, os problemas económicos do país, agravados pela participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, a instabilidade política resultante das revoltas monárquicas, da luta partidária e parlamentar, que conduziu a sucessivas quedas dos governos, culminando com o golpe militar de 28 de Maio de 1926.
Em seguida destacou o papel político e cultural dos republicanos mortaguenses, nomeadamente de José Lopes de Oliveira, Tomás da Fonseca, Augusto Simões de Sousa, Albano Lobo, Manuel Ferreira Martins e Abreu e Basílio Lopes Pereira, enfatizando alguns aspectos quer da sua actuação a nível local, quer a nível nacional.

Durante o período de debate, os alunos colocaram diferentes questões ao Professor Doutor Romero de Magalhães, sobretudo relacionadas com a implantação da República em Mortágua, os partidos políticos da época, a participação de Portugal na Guerra e as figuras republicanas do concelho. Nas respostas que deu, o Professor relembrou, em particular, a obra publicada por Manuel Ferreira Martins e Abreu, dando o exemplo d’A República da Beira Alta, em que o autor denuncia aspectos do mau funcionamento das instituições locais do final da Monarquia; os livros anticlericais de Tomás da Fonseca, A Cova dos Leões e O Santo Condestável e também o artigo de José Lopes de Oliveira A Actual Situação Política, que caracteriza o governo ditatorial de João Franco, no final da Monarquia.
O conferencista terminou com um apelo aos alunos: “Leiam os escritores portugueses, leiam os escritores mortaguenses!” - uma mensagem de quão importante é a leitura para a formação dos jovens.
O debate revelou-se bastante produtivo, na medida em que houve uma ampla participação de todos intervenientes, criando-se um ambiente interactivo e dinâmico, em que os alunos assistiram a uma aula ao vivo de História da Primeira República!
O Colóquio foi complementado com uma Exposição alusiva ao Centenário da República, a qual pode ser visitada no polivalente da Escola Básica 2/3 Dr. José Lopes de Oliveira.

Elisabete Oliveira e Conceição Janeiro, professoras de História

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