domingo, 20 de junho de 2010

Exposição "Sentir a Terra - Mortágua Republicana"

A Exposição “Sentir a Terra – Mortágua Republicana”, inaugurada no dia do Município, a 13 de Maio de 2010, e que esteve patente no Centro de Animação Cultural de Mortágua até meados de Junho, constituiu um contributo essencial para a divulgação e compreensão da acção política, social e cultural, na defesa e promoção dos ideais republicanos, de algumas das figuras republicanas de Mortágua, tais como José Tomaz da Fonseca, José Lopes de Oliveira, Basílio Lopes Pereira, Manuel Ferreira Martins e Abreu, Augusto Simões de Sousa e Albano Moraes Lobo.

República em Mortágua entrevistou a  Dra. TERESA BRANQUINHO, responsável da Biblioteca Municipal de Mortágua.

Quando e como surgiu a ideia da Exposição “Sentir a Terra - Mortágua Republicana”?
A ideia surgiu no âmbito da Comemoração do Centenário da República. Como Mortágua era considerada ao tempo “a vila mais republicana da Beira Alta”, pensámos em fazer algo relacionado com a vida dos republicanos mortaguenses. Primeiramente deparámo-nos com o livro “Álbum Republicano”, cedido por um particular, em que aparecem cinco dos seis republicanos evocados nesta Exposição. A partir daí, começámos a fazer pesquisas nos jornais da época, em livros, etc.

De quem partiu a iniciativa da Exposição?
A iniciativa partiu do Senhor Presidente da Câmara, Dr. Afonso Abrantes, tendo-se constituído um grupo de trabalho, que, no âmbito do Programa de Actividades do Município para 2010, planeou este evento.

Quais os republicanos mortaguenses evocados na Exposição e o porquê dessa escolha.
A Exposição é dedicada a Augusto Simões de Sousa, Manuel Ferreira Martins e Abreu, Albano Moraes Lobo, José Tomaz da Fonseca, José Lopes de Oliveira e Basílio Lopes Pereira.
Optámos por estas personalidades uma vez que dispúnhamos de mais informações sobre eles (em jornais, livros, cartas e outros documentos). Todos eles tiveram uma acção política importante a nível local e mesmo a nível nacional, antes e após a Implantação da República.Por exemplo, Tomaz da Fonseca foi chefe de gabinete do Ministério de Teófilo Braga e deputado da Assembleia Constitucional, em 1911; em 1916, foi eleito Senador pelo distrito de Viseu. José Lopes de Oliveira fez parte do Directório do Partido Republicano Radical e foi convidado para Ministro do Governo Provisório, cargo que recusou. Foi Chefe de Gabinete da Presidência do Ministério, em 1921. Manuel Martins e Abreu, ainda no tempo da Monarquia, foi eleito Vereador independente para a Câmara Municipal de Mortágua e, em 1911, foi nomeado Administrador do Concelho de Mortágua.
Augusto Simões de Sousa foi Presidente da Comissão Municipal Republicana de Mortágua, antes da implantação da República, sendo também eleito Presidente da Câmara de Mortágua, em 1895, quando regressou do Brasil. Após a implantação da República foi nomeado Administrador do Concelho.Basílio Lopes Pereira e Albano Moraes Lobo desempenharam o cargo de Administradores de Concelho de Mortágua. Basílio Lopes Pereira fazia parte de uma família ligada à República.

Por favor, explique-nos como está organizada a exposição e quais as secções que a compõem.
O rés-do-chão é dedicado às seis personalidades republicanas de que falei.
Numa vitrina encontram-se expostos os livros com as primeiras actas da Câmara Municipal de Mortágua, após a implantação da República, nas quais são referenciados Augusto Simões, Martins e Abreu, Albano Lobo, entre outros. Uma bandeira de República da época, bordada à mão, que terá sido hasteada na Câmara, encontra-se numa parede, em lugar de destaque.Temos a seguir uma mesa envidraçada com os jornais locais da época - o Sol Nascente e o Sul da Beira, e também o Jornal nacional República, de 22 de Abril de 1912, onde se lê o artigo sobre o Manuel Martins e Abreu intitulado “Um Cavador pregando e defendendo a República nas Montanhas”, de Tomaz da Fonseca. Uma outra mesa expõe obras de alguns dos republicanos de Mortágua e livros relacionados com a República em Mortágua. Citamos alguns: de Tomaz da Fonseca - Memórias do Cárcere, publicado em 1919, e Memória de um Chefe de Gabinete de 1949, com prefácio de José Lopes de Oliveira. Do Lopes de Oliveira, destacam-se A Justiça e o Homem, de 1905, e A Actual situação Política, de 1907. Do Manuel Martins e Abreu - O Meu Voto nas Próximas Eleições, de 1906, e A República na Beira Alta, de 1913. Nesse expositor podemos ainda observar outros livros que evocam a República em Mortágua: Álbum Republicano, de 1908, que apresenta uma panóplia de retratos dos republicanos a nível nacional, e também dos nossos republicanos mortaguenses, à excepção do Basílio Lopes Pereira, acompanhados com uma breve descrição biográfica dos mesmos; no livro Constituintes de 1911 e seus Deputados, na página 56, aparece o retrato de José Tomaz da Fonseca eleito pelo círculo de Viseu; Homenagem Propagandística da República, com a representação de centenas de republicanos portugueses, incluindo os republicanos mortaguenses (um autêntico quebra-cabeças para os identificar!); e o Almanaque da República, de 1913. Além dos livros, podemos visualizar cartas e outros documentos manuscritos, como por exemplo uma carta de Augusto Simões ao pai de Albano Lobo, ou um caderno manuscrito, com lições de Aritmética, Geometria…, de Martins e Abreu. No rés-do-chão destaca-se o grande painel verde e vermelho, com as figuras dos seis republicanos mortaguenses, aludindo à Bandeira Nacional.Noutra parede estão expostas painéis com geologias dos republicanos evocados na Exposição. É dado destaque ao busto da República, estando expostas várias peças.
No centro da sala encontra-se a esfera armilar em metal, obra de um artista da Felgueira. No primeiro andar, na secção “Redescoberta de Memórias”, estão expostos documentos diversos: cartas, artigos de jornais (por exemplo, a notícia da morte do Albano Lobo no jornal Sul da Beira), artigos de Martins e Abreu no jornal brasileiro Oitavo Distrito, convocatórias das reuniões do Partido Republicano em Mortágua, entre outros. Como um dos lemas da República era a Educação, uma das secções da Exposição é dedicada à Escola Livre da Irmânia (Marmeleira) e à Escola Livre de Mortágua, em que se destacaram, respectivamente, Basílio Lopes Pereira e Albano Lobo.
No salão do primeiro andar expõem-se materiais que contextualizam e evocam o quotidiano da Primeira República a nível nacional e local: jornais da época, como O Mundo e a República; objectos decorativos e propagandísticos - uma travessa de cerâmica, um quadro de 1910, feito com um lenço, cinzeiros de Rafael Bordalo Pinheiro; quadros alusivos à República, desenhados pelo mortaguense António Barbosa, também ele republicano. No fundo da sala encontra-se um grande painel em papel de cenário, com a representação da simbologia da República, em que predominam as cores verde e vermelha, pintado por uma funcionária da Biblioteca Municipal.Do lado esquerdo da sala deparamo-nos com uma mesa com objectos ligados à leitura e à comunicação: uns óculos, um telefone e outros testemunhos identificativos da época.

Relativamente ao espólio documental da exposição, teve dificuldade na sua angariação?
Existia algum espólio na Biblioteca Municipal e no Arquivo da Câmara Municipal (livros de actas, jornais da época, livros de alguns autores e outros documentos). Consultámos o Arquivo da Universidade de Coimbra, onde obtivemos informações sobre Basílio Lopes Pereira e Lopes de Oliveira, que estudaram nesta Universidade. Obtivemos também documentação na Conservatória do Registo Civil de Viseu. Contactámos pessoas da terra e familiares destes republicanos e assim conseguimos espólios de particulares - cartas, livros, objectos diversos -, os quais foram gentilmente cedidos para a Exposição. Saliento ainda que tivemos ajuda na identificação nas fotos destes republicanos e de seus familiares.

Quais as conclusões que considera pertinentes sobre a importância do conteúdo da Exposição para a comunidade escolar e local?
Os visitantes manifestaram grande interesse, colocaram muitas questões no intuito de saber mais sobre as personalidades republicanas mortaguenses. Os mais jovens estiveram igualmente envolvidos, e um dos “actores” que incorporou a personalidade de Augusto Simões de Sousa, ao visitar a Exposição com o pai, proferiu a seguinte frase: ”Ó pai, eu sou este!”, dirigindo-se ao painel central e apontando para a referida personalidade. Isto reflecte o entusiasmo dos jovens pelo “papel” que representaram…

Podia-nos ainda falar sobre o filme que foi exibido no átrio de entrada?
O filme constitui um complemento da Exposição. Há uma sequência lógica na apresentação de cada um dos republicanos: em primeiro lugar, surge a foto da personalidade; de seguida, fotos de locais onde nasceram ou viveram; depois colocámos palavras que reflectem os ideais desses republicanos; finalmente - pequenos textos da autoria desses republicanos, como por exemplo: uma carta de Basílio Lopes Pereira, enviada da cadeia para um amigo. No caso do Dr. José Lopes de Oliveira, um excerto do discurso “A Actual Situação Política”, de 1907.

O livro de Honra reflecte o impacto que a Exposição teve na comunidade escolar e local. Fale-nos das opiniões aí registadas.
As opiniões registadas no Livro de Honra reflectem o empenho e dedicação manifestados pela equipa que organizou a Exposição. O nosso trabalho é amplamente elogiado, pelo que nos congratulamos pelo impacto que a Exposição teve a nível escolar e local.
Eis algumas transcrições do Livro de Honra:

- “Boa iniciativa. Parabéns!”
- “Estava muito interessante e criativa. Parabéns pelo trabalho realizado.”
- “Gostámos muito da Exposição. Estava bem organizada, criativa e interessante. Foi bom conhecer estas figuras ilustres, que lutaram pelos ideais republicanos: liberdade, justiça, fraternidade, igualdade…”
- “Às vezes vivem-se momentos de uma verdadeira revolução. Muitos parabéns! Está impecável, bonita… e VIVA A REPÚBLICA!”
- “É sempre bonito e muito bom ter estas exposições no Dia do Município, e esta em especial por nos lembrar os Homens Bons que existiram no nosso concelho e na nossa terra.!”
- “Bem pensada, bem encontrada, bem respirada. Parabéns!”
Obrigada pela atenção dispensada.








 

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