terça-feira, 9 de abril de 2013

95 anos sobre a Batalha de La Lys

Partilhamos o interessante artigo do blogue Almanaque Republicano alusivo às consequências políticas, económicas e sociais da participação portuguesa na batalha de La Lys, em 9 de abril de 1918:
Mais do que lembrar o acontecimento, importa sobretudo compreender as suas consequências. Estas, para Portugal, foram terríveis. Foi um dos momentos decisivos da I Guerra Mundial e sobretudo, para as tropas do Corpo Expedicionário Português, tiveram consequências desastrosas. Este acontecimento fez agravar ainda mais a débil situação económica, política e social que se vivia em Portugal. 
Ao nível político, a participação de Portugal na Guerra, fez desagregar o sistema partidário português. As principais figuras da propaganda republicana, que tinham muitas delas defendido a participação de Portugal na Guerra, afastaram-se da vida política nacional. Surgiram novas figuras e múltiplos partidos e facções que só vieram degradar cada vez mais a vida política em Portugal, arrastando-o para uma instabilidade permanente. As revoltas, conspirações e tentativas revolucionárias intensificam-se com o final da guerra. Os militares tornam-se cada vez mais protagonistas desses movimentos que vão culminar com a revolta de 28 de Maio de 1926.

Ao nível económico, a situação degrada-se cada vez mais. As despesas de guerra implicaram a falência da frágil economia da República. A população vivia, na sua grande maioria, ligada à agricultura e sentia cada vez mais a carestia de vida. Os preços a aumentar, a fome da população e os açambarcadores a especularem com os preços dos bens essenciais conduziram a várias crises de abastecimentos que os governos tiveram muita dificuldade em combater e resolver, em parte devido aos problemas da instabilidade política e à legislação muitas vezes contraditória. Uma das medidas positivas foi o apoio concedido à criação do Crédito Agrícola e que conduziu ao aparecimento das caixas de crédito agrícola que ainda hoje existem pelo País. Por outro lado, o lento processo de industrialização, com um reduzido número de fábricas e com um operariado muito localizado, com baixos salários. Durante a guerra, uma das indústrias que conheceu algum florescimento, tal aconteceu depois na 2ª Guerra Mundial, foi a indústria de conservas (em particular de peixe). Os principais sectores industriais eram a indústria têxtil, a moagem, as madeiras e mobiliário, a metalurgia, a indústria corticeira, a cerâmica, o vidro, a indústria química e, por fim, a indústria dos cimentos. As grandes concentrações industriais localizavam-se preferencialmente junto ao litoral, nas periferias de Lisboa, Porto, Setúbal, na região do Ave e na região de Leiria.

A nível social, os governos da República tentaram adoptar um conjunto de medidas que poderiam favorecer o operariado: decretou-se a semana das 48 horas de trabalho; estabeleceu-se a obrigatoriedade do seguro social (para acorrer nos momentos de doença, acidente, velhice); construíram-se bairros operários por conta do Estado. No entanto, estas medidas legislativas acabaram por nunca conseguir avançar porque nunca foram regulamentadas e, na prática nunca chegaram a ser implementadas. Os salários, em especial dos funcionários públicos, continuaram a baixar de acentuada. Os movimentos grevistas associados a situações de revoltas locais, assassinatos, atentados à bomba foram uma constante, por exemplo no ano de 1919. A emigração, em especial para o Brasil, foi uma constante durante todo o período da República, e embora tenha diminuído durante a Grande Guerra, foi depois retomada de forma regular.

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